Flanar Fotográfico: Avenida São Carlos

Edição Especial  nº 3

Flanar fotográfico na avenida São Carlos 


A Avenida São Carlos é um corredor urbano de pouco mais de quatro quilômetros. Uma das principais artérias da cidade, cruzando o centro comercial, os casarões históricos dos tempos áureos do café, novas construções que, de maneira dinâmica e um tanto anárquica, sinalizam a convivência de diversas temporalidades no espaço.


O flanar aprendiz, em sua terceira edição, fez um chamado. Um convite para que quem vive em São Carlos mandasse fotografias da Avenida , privilegiando detalhes que tendem a passar despercebidos no ir e vir do dia a dia. 


O escritor argentino Julio Cortázar chamava atenção para a capacidade da boa fotografia em instigar a nossa imaginação sobre o que haveria para além de suas margens, “uma espécie de aura para fora de si mesma.” 


Eram os tempos em que o olhar estava mais voltado para o exterior. A inflação de dispositivos e de fotos da vida contemporânea pode ter contribuído para reduzir a aura das imagens, no tempo das “selfies” as pessoas sempre se colocam no cenário que retratam.


O exercício do flanar aprendiz aponta para novas relações com o tempo e o espaço e, nessa edição, dedicada às fotografias, percebemos no olhar de quem enviou suas colaborações o quanto há de riqueza inexplorada nos trajetos comuns.





Nos registros de Priscilla de Lima Lopes e Vinícius João, a luz ( ou sua ausência) desenha sensações. Uma estátua quase nas nuvens, o emaranhado de fios como a caótica moldura do casarão antigo, uma inusitada gata e as águas noturnas.


 Kimie propõe um olhar pela contramão na Avenida São Carlos e escolhe um ângulo inusitado do pôr do sol nos vitrais da catedral.


Cauã se detém em leões impiedosos esculpidos em concreto em alguma estátua do caminho ou em simulacros de araucárias, de onde se vê o verde real.


Bueno nos mostra a sutileza de espaços inusitados que enquadram a força do sol, e ainda não é verão.


João Pedro atinge as alturas para compor um quadro da cidade vista de cima e o céu de uma primavera sem nuvens.


Antônio Mozetto apresenta suas dissolvências, uma técnica de distorção da realidade em que as gotas de chuva e as cores instauram uma narrativa poética, revelando o mistério da vida das pessoas e da cidade.


Seguimos aprendizes, inspirados em Mário de Andrade, que, entre tantos, foi também  pioneiro da fotografia modernista brasileira.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS

Antônio Mozetto

Olhando os reflexos, as distorções da luz que penetra livremente na miríade de lentes convexas das gotas de água da chuva no para-brisa do meu carro, vejo uma realidade que se transforma em um mundo onírico e poético.

A distorção da realidade e a explosão e a dispersão de luz e cores espalham-se e materializam-se e, as ruas e alguns dos seus transeuntes, os edifícios, as construções vernaculares, a paisagem urbana como um todo fundem-se, revelando o mistério da vida desta cidade e destas pessoas.

A minha intenção ao criar estas imagens e o resultado que elas induzem é pictórica, de construção de uma narrativa, mas é ao mesmo tempo emocional, na esperança de que esses mesmos sentimentos brotem na mente de quem as aprecia.

Foto por: Mozetto
Foto por: Mozetto
Foto por: Mozetto
Foto por: Mozetto
Foto por: Mozetto
Foto por: Mozetto

Kimie Nishimura


Foto por: Kimie
1: Este prédio foi a antiga estação da Viação Cometa. Hoje este mesmo espaço comporta o Café Dona Júlia e outros estabelecimentos. Deste ângulo é possível ver que estes empreendimentos compartilham do mesmo edifício e um detalhe que me chamou a atenção são as colunas cilíndricas em suas entradas, que são iguais. 

2: O cata vento no palacete Conde do Pinhal, na esquina da Avenida São Carlos com a Rua Conde do Pinhal.

Foto por: Kimie


3: Pôr do sol contra os Vitrais da Catedral.



Foto por: Kimie

4: Avenida São Carlos; um olhar na “contramão”.



Foto por: Kimie

Cauã Cardoso

COSTAS DE LEÕES

Quem diria que nessa mesma praça que anto já passei em demasia apatia teriam ocultas feras indomáveis que manifestam-se pela fantasia; vestidas em coro de algoz, com juba exposta e olhar atroz; meus passos, um após o outro, nada muito veloz.

Transeuntes ausentes de olhares transparentes, sentam-se sobre as costas de simbólicos reis impiedosos esculpidos em concreto armado; quantos já não choraram e sofreram, sorriram e tremeram, dormiram ao relento ou beijaram em acalento, sobre tão dura pedra leonina.

Esta pode não ser a mesa de pedra de Aslam, mas claramente há aqui uma magia antiga, que me fez criar das pedras rugidos de felinos fugazes.

Sente-se sobre as costas de leões de pedra e sonhe!
















Foto por: Cauã















Foto por: Cauã

ÁRVORES ADESIVAS

Adesivos de árvores sobrepostos por árvores de verdade, a interposição de árvores em suas diferentes formas no ambiente moderno urbano, ainda mais pela relação do formato do adesivo representar a Araucária, símbolo da cidade de São Carlos.

Bueno de Souza





Calor de verão

A volta da porta

Uma luz



Foto por: Bueno

Priscilla Lopes e Vinícius João 

Foto por: Vinícius João 
Foto por: Vinícius João 
Foto por: Priscilla

Pictórica! Quando nos permitimos observar e absorver despretensiosamente o ambiente

ao nosso redor, cada lugar se transforma em puras imagens ascéticas. Corpos não

existem mais, apenas a divagação do observador pleno e consciente de tudo,

capturando instantes e registrando-os com a lente da câmera e do olhar. Registros

perpetuados na memória, e agora, no Flanar.

Foto por: Priscila